PROVÉRBIOS
Por uma ficção literária o livro dos Provérbios é atribuído a Salomão. Menciona, com efeito, o Primeiro livro dos reis (4:29-34) que Salomão produziu numerosíssimos provérbios de sabedoria. Na realidade, o livro dos Provérbios, é uma coleção composta de oito partes:
1. 1- A primeira é formada por 6 exortações, entrecortadas de evocações poéticas, nas quais a sabedoria personificada entre em cena e pronuncia os seus discursos.
2. 2 - A grande coleção salomônica de provérbios que tratam dos vários estados da vida.
3. 3 e 4. Duas pequenas coleções atribuídas aos “sábios”.
4.
5. 5 - Provérbios salomônicos recolhidos “pela gente do rei Ezequias”.
6. 6 - Um fragmento atribuído a Agur, filho de Jaque, autor, aliás, desconhecido.
7. 7 - Uma coleção de conselhos de uma rainha-mãe a seu filho.
8. 8 - Enfim, um poema acróstico de acordo com as letras do alfabeto que faz o elogio da mulher forte.
Entre as sentenças contidas neste livro, grande parte é de origem popular, como os rifões, importante fragmento (cap. 10:22 e cap. 25:29) é atribuído a Salomão, sem que se possa decidir com exatidão qual seja a parte que esse rei possa ter tido na sua redação.
Os provérbios atribuídos aos sábios, aliás, desconhecidos, devem ter sido compostos antes do exílio, embora os caps. 30 e 31 pareçam posteriores a eles.
A primeira parte (cap. 1-18) é considerada atualmente como uma composição feita depois do exílio. Ignora-se a data da constituição definitiva deste livro sob a sua forma atual, apenas devemos supor que ela tenha sido feita depois que apareceu o Eclesiástico (no começo do segundo século a.C), porque esse livro é aí mencionado.
Acham-se no livro dos Provérbios numerosas passagens nas quais se pode descobrir frisante parentesco com textos anteriores egípcios e orientais. Não sabemos em que medida o autor inspirado se utilizou de predecessores estrangeiros, mas é certo que também os Hebreus sofreram a influência dessas grandes civilizações. Dizendo influência, não entendemos uma dependência completa. A moral dos provérbios, fundada na crença e na revelação de um único Deus, mostra-se superior a todos os produtos pagãos da mesma espécie.
Ressalta no livro um conceito puríssimo de Deus, de um Deus insondável, justo, benevolente, misericordioso e criador.
Do ponto de vista moral, a humanidade é dividida em duas categorias: os sábios e insipientes. Por sábio deve-se entender todo aquele que é inteligente, bem avisado, virtuoso e íntegro. Entre os insipientes devem ser enumerados os maus, os mentirosos, os negadores, os ladrões, os malfeitores, os perjuros. O autor insiste particularmente nas virtudes da caridade, justiça, prudência, moderação e discrição. Por outro lado, ele investe contra os vícios da embriaguez, da gula, luxúria e da preguiça.
De modo especial acentua a piedade filial e a educação das crianças. Igualmente se pode reconstruir um verdadeiro código de direito régio e de equidade judicial, reunindo-se os fragmentos dispersos que tratam dessas questões.
Em todo o livro se manifesta viva fé numa retribuição, recompensa ou castigo. Mas não existe ainda a ideia de uma vida eterna.
A região dos mortos aparece sempre (como também em Jó e nos Salmos) como um lugar de tristeza no qual as sombras se detêm num estado mais de morte do que de vida.
A moral, tal como a lemos nesse livro, poderá parecer a uma consideração superficial muito primitiva. De fato, os autores desse livro limitaram seu interesse a normas de caráter prático. Entretanto, os sábios israelitas sabiam proclamar que a verdadeira sabedoria ultrapassava infinitamente a simples virtude da prudência.
Assim é que aí se nos depara a célebre máxima: “O temor do Senhor é o começo da sabedoria” (1:7 e 9:10).
Essa sabedoria só pode provir de Deus mesmo (8:22), é ela que nos faz compreender algo da justiça e dos juízos de Deus (2:5-9), como é ela também que produz a verdadeira humildade (15:33).
No livro dos Provérbios, urge-se saber-se espigar, haverá sempre alguma espiga a ajuntar-se. Entretanto, devemos separar cuidadosamente um feixe do outro, assim as 6 exortações do sábio ao seu filho (cap. 1 – 20), as curiosas máximas numéricas do cap. 30 e o poema sobre a mulher forte do cap. 31.
***Amanhã falaremos sobre o livro do Eclesiastes.***