Complemento
Os Evangelhos constituem, pois, um documento inestimável
sobre a vida e o ensinamento de Jesus. Tem-se muitas vezes objetado que eles
não são perfeitamente concordantes. A resposta a dar a essa objeção é que as
diferenças só se referem a elementos acessórios e detalhes.
Essas diferenças, por outra parte, são devidas ao fato de
que os evangelistas não pretendem fazer da vida do Senhor uma narrativa
propriamente histórica. Os Evangelhos são escritos religiosos, doutrinais,
destinados a alimentar a fé e a comunicá-la, fazendo conhecer a pessoa de
Jesus. Cada autor, ao escrever, tinha seu ponto de vista particular.
Mateus escreve na Palestina para leitores judeus, seu texto
se particularizava pela abundancia de citações do Antigo Testamento.
Marcos que apresentar Jesus aos pagãos, fazendo notar
sobretudo o que havia de extraordinário e de valor probatório de sua missão nos
milagres por ele operados.
Lucas, escrevendo também para os pagãos, tem a visível
preocupação de apresentar Jesus sob um aspecto mais atraente e comovedor,
fazendo notar, antes de tudo, a bondade e a misericórdia do Senhor.
João procura mostrar aos seus leitores a divindade de Jesus
e revelar-lhes um pouco de sua realidade invisível, mas conservando o cuidado
de apresenta-lo como um homem no concreto de seus atos e de seus discursos.
Malgrado todas essas diferenças, a Igreja tem sempre o vivo
sentimento de que não houve jamais senão um Evangelho, uma só Boa Nova de
salvação, mas apresentada sobre quatro formas: Mateus, Marcos, Lucas, e João.