CONSTRUIR A SANTIDADE NO COTIDIANO
APRENDENDO COM A VIDA E MISSÃO DE JOÃO BATISTA
Santidade é vocação de todos os cristãos, sem exceção.
A redescoberta da Igreja, como um povo unido pela unidade do Pai, do
Filho e do Espírito Santo não pode deixar de implicar um reencontro com
sua santidade, entendida no seu sentido fundamental de pertença àquele
que é o Santo por antonomásia, o três vezes Santo (cf. Is 6,3).
Professar a Igreja como santa significa apontar o seu rosto de Esposa de
Cristo, que a amou entregando-se por ela precisamente para santificá-la
(cf. Ef 5,25-26). Este dom de santidade é oferecido a cada
batizado. Mas, o dom gera um dever, que há de moldar a existência cristã
inteira: "Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1 Ts 4,3). É
um compromisso que diz respeito aos cristãos de qualquer estado ou
ordem, chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade.
Significa exprimir a convicção de que, se o batismo é um ingresso na
santidade de Deus, por meio da inserção em Cristo e da habitação do Seu
Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre (Cf.
Novo Millenio ineunte 30-31).
A
formação da cultura dos povos é marcada positivamente pela presença da
Igreja e por homens e mulheres que se elevam pelo seu comportamento e
suas opções de vida, mostrando que, efetivamente, é possível sair da
rotina do “mais ou menos” para confirmar que uma alma que se eleva,
eleva o mundo. Tenho descoberto esta santidade em homens e mulheres que a
testemunham na fidelidade ao Evangelho, na coerência de suas opções e
na estatura com que enfrentam as dificuldades da vida. Há de se abrir os
olhos e descobrir tais pessoas, vendo-as como provocação positiva ao
risco de acomodamento que nos cerca continuamente.
A Igreja reconhece, publicamente, a santidade com
o que chama de “beatificação” e “canonização”. Hoje, o Brasil já conta
com diversas pessoas assim reconhecidas, entre cristãos leigos,
religiosos ou sacerdotes, crianças, jovens e adultos, confessores da fé e
mártires. São homens e mulheres, cuja santidade heroica merece ser
posta diante dos olhos do mundo. Não nos envergonhemos de dizer que os
cristãos têm para oferecer ao mundo o que existe de melhor em
humanidade. Não nos furtemos à responsabilidade de superar as falhas
humanas existentes com a virtude comprovada e testemunhada. Nosso
tempo tem direito a receber dos cristãos a oferta da santidade. Ao
reconhecer que o mistério da iniquidade se encontra presente no meio do
mundo e também entre os cristãos, continue como referência a medida alta
da santidade!
No
período em que nos encontramos, chamado pela Igreja de “tempo comum”,
as verdades do Evangelho são mostradas a todos pelo testemunho dos
santos e santas que se consagraram a Cristo e são sinais luminosos de
luta e de perfeição, além de reconhecidos como valorosos intercessores
para aqueles que acreditam “na comunhão dos santos”, como dizemos na
Profissão de Fé. E como sempre acontece, os santos de maior devoção
geraram cultura e hábitos na sociedade. Multiplicam-se as festas
patronais em nossa região, muitas pessoas retornam a sua terra natal
para as férias que se aproximam e para se alimentarem de legítimas e
positivas tradições religiosas que contribuem para que se tome
consciência de que não nos inventamos a nós mesmos, mas somos
tributários de uma magnífica herança, como tocha da grande olimpíada da
vida a ser mantida acesa e passada às sucessivas gerações. São
conhecidos de forma especial os santos do mês de junho, Santo Antônio,
São João Batista e São Pedro. São figuras que geraram cultura popular
entre nós.
Ponho em relevo, de modo especial, a figura de São João Batista,
cujo nome, vida e missão são reconhecidos pela tarefa que a Providência
Divina lhe confiou, como precursor da chegada do Messias, aquele que
mostrou presente o Salvador do mundo, pregador da penitência, capaz de
abrir, nos corações humanos, a estrada para que chegasse Aquele “que
tira os pecados do mundo”, como foi por Ele mesmo apresentado (Cf. Jo
1,29).
Um dia, Jesus recebeu
emissários de João Batista com a pergunta sobre sua identidade de
Messias. De fato, João se revelou sempre radical em suas escolhas e
profundamente honesto em seu desejo de fidelidade à missão recebida.
Mandou-lhe a magnífica resposta: “Ide contar a João o que estais ouvindo
e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são
curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a
Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!” (Mt
14,4-5). Às multidões de ontem e de hoje, Jesus fala sobre João Batista:
“Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes
ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem roupas
finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta?
Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está escrito:
'Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho
diante de ti'" (Mt 14,7-10).
Viver para servir, ser honestos na procura da verdade e coerentes no comportamento. Com
exemplos de tal quilate, descobrimos o quanto é bom viver para servir e
amar. A vida e a missão de João Batista, unidas à sua oração fervorosa,
nos façam acolher as verdadeiras alegrias vindas do Salvador e nossos
passos se dirijam no caminho da salvação e da paz.
(Texto de Dom Alberto Taveira - Arcebispo de Belém - PA)