DANIEL
Daniel é um israelita levado à Babilônia entre os deportados por Nabucodonosor. Jovem, era possuidor de uma fé ardente e de um patriotismo violento.
Ele deve ser tido não tanto como autor do livro que traz seu nome, mas como seu herói principal. Com efeito, esse escrito foi redigido em três línguas: Hebraico, Grego e Aramaico; ora, os dois últimos idiomas não eram ainda utilizados no tempo em que o livro coloca o profeta. Seu redator, que escreveu certamente no segundo século a.C., serviu-se de documentos anteriores, que podem remontar até a própria época de Daniel.
O livro de Daniel salienta-se como um dos mais curiosos entre os livros proféticos da Bíblia: primeiro abrange diversas narrações relativas ao profeta no meio dos habitantes de Babilônia. Vem em seguida uma série de estranhas descrições, imaginativas e solenes, de misteriosas visões atribuídas ao mesmo profeta. Serve-se o autor do processo, chamado estilo apocalíptico, para delinear aos seus leitores, sem pretender manifestá-los, sob imagens veladas e ao mesmo tempo transparentes, os acontecimentos de que são testemunhas, nos quais poderão descobrir perspectivas de um futuro que constitui a finalidade de sua mensagem. Por fim, o livro abrange, em apêndice, três narrações: a de Susana, a de Bel e a do dragão, que são Jerônimo considerava como contos destinados à edificação moral.
De uma extremidade a outra dessa profecia, predomina a ideia da expectativa, pelo reino de deus; mas urge descobri-la, porque é expressa quase sempre veladamente.
Já as narrações do começo do livro apresentam Daniel e seus companheiros como homens cuja inflexível fidelidade se torna um símbolo da resistências dos crentes ao poder dos perseguidores. As páginas obscuras que aí lemos são por vezes explicadas pelo próprio livro que, como nos capítulos 2 a 8, nos ensina a ver nas grandes visões descritas (o colosso de pés de argila, os quatro animais, o bode...) um modo velado de representar os grandes impérios que se sucederam no oriente, desde os tempos do exílio até a época em que o autor vivia. Portanto, esse livro devia servir de consolação e de animação aos israelitas que sofriam a opressão por parte de Antíoco Epífanes (176-163), apresentando-lhes esse último reino terrestre como prelúdio de um “reino que jamais será destruído” (2,44)
Lança o profeta os seus olhares sobre perspectivas eternas, revelando, sucessivamente, a preparação do reino de Deus pela restauração religiosa do povo eleito, e a própria realização desse reino, bem como sua consumação no fim dos tempos. Essas três fases são descritas sem que ele atenda a sucessão cronológica, tanto assim que, à primeira vista, poder-se-ia confundir a restauração imediata, que o profeta anuncia para o fim das perseguições de Antíoco, com aquela que todos os homens esperam para o fim dos tempos, ou com aquela que o Messias devia realizar na terra. O profeta deixa os leitores, propositadamente, na incerteza quanto ao tempo. Seu escopo é excitar neles o desejo e as esperanças da promessa com uma viva confiança na certeza de sua realização.
Esse Reino, o reino de Deus anunciado pelos profetas, é o que será proclamado e realizado por Jesus Cristo.
Não pode haver dúvida, entretanto: além de anunciar a vinda do reino de Deus, Daniel subentendeu também a segunda vinda do Senhor no fim dos tempos. Jesus cita expressamente uma passagem de Daniel (9,27) no discurso sobre a destruição de Jerusalém e o fim do mundo (Mt 24,15). Guarda, portanto, ainda hoje a profecia de Daniel toda a sua atualidade para os leitores modernos: os fiéis devem contar com toda espécie de provações e, no meio delas, devem alimentar absoluta confiança na vinda do seu divino Salvador.
Notáveis e interessantes são as seguintes passagens:
- · O sonho da estátua (Cap. 2).
- · O festim de Baltazar (Cap. 5).
- · A fossa dos leões (cap. 6).
- · A oração de Daniel (Cap. 9).
- · Os tempos messiânicos (Cap. 12).
- · A história de Susana (Cap. 13).