quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Bíblia Sagrada


OS DOIS LIVROS DOS REIS

Formando primitivamente uma só obra, esses dois livros traçam-nos a história dos israelitas, desde a morte de Davi, que devemos situar no ano 970, até a destruição de Jerusalém, com a deportação do povo de Nabucodonosor em 587 a.C.

Os autores dessa compilação de fontes, de origem e de épocas  diversas, são-nos desconhecidos. A maior parte já estava certamente redigida no final do século VII. As fontes dessa compilação são citadas com frequência: a mais importante é a Crônica dos Reis de Israel e de Judá, composta, sem dúvida, com os arquivos dos dois reinos.

Com a morte de Salomão, em 931, o reino foi dividido em consequência da separação das dez tribos do norte, que se constituíram um reino independente, o qual, em 722, foi conquistado e deportado por Sargon II, rei da Assíria.

O autor permite-se um julgamento sobre cada um dos reis, comparando-os com Davi, que ele considera um rei íntegro e fiel. O número dos reis julgados maus é muito superior ao dos reis julgados bons. Só Salomão, Asa, Josafá, Joás, Osias, Joatão, Ezequias e Josias escapam ai julgamento de reprovação, sendo os dois últimos considerados, aliás, como verdadeiros modelos. Urge notar que o critério desse juízo se baseia quase que exclusivamente na fidelidade ao verdadeiro culto, de acordo com o espírito do Deuteronômio, colocando-se o autor em um ponto de vista totalmente religioso.

Os livros dos Reis contêm, em conjunto com notícias mais ou menos desenvolvidas com respeito aos reinos sucessivos em Israel e em Judá, dois trechos particularmente notáveis, concernentes aos profetas Elias e Eliseu ( I Rs 17 a 19; II Rs 1 a 8). Esses dois homens figuram entre as personalidades mais importantes do Antigo Testamento, como grandes profetas, título esse já conferido ao próprio Samuel.

Profeta não significa o homem que prediz o futuro, embora ocasionalmente o faça. Profeta significa homem que fala em nome de Deus. É, antes de tudo, um pregador que exorta o povo a ser fiel a seu Deus. No começo do livro de Samuel, o profeta chama-se ainda vidente.

Os profetas, portanto, falavam e agiam em nome de Deus, lembrando ao povo o seu destino e eram como que conselheiros privados dos juízes e reis, recordam-lhes os deveres, censuram-lhes as falhas e encorajam-nos às generosas iniciativas. Desde Moisés até João Batista, os profetas foram às testemunhas do verdadeiro Deus e trabalharam em prol do mais perfeito monoteísmo. Investem contra a injustiça dos grandes e dos ricos, contra a inércia das massas populares. Viviam habitualmente como os seus contemporâneos e exerciam uma profissão particular. Havia, entretanto, vários agrupamentos de profetas, análogos e comunidades religiosas, vivendo os discípulos em torno de um mestre e levando uma existência frugal e apartada do convívio dos homens. Nas narrações sobre Elias e Eliseu faz-se menção dessas corporações que, em todo o caso, se limitam a um ministério meramente oral.

Só do oitavo século em diante é que alguns profetas começaram a redigir as suas mensagens. Aliás, essa redação foi simplesmente acessória: faziam-se compreender o que era o principal.

Nos livros de Isaias, Jeremias e Ezequiel, são narradas estranhas ações, as quais os profetas recorriam com o fim de chamar a atenção: o porte de um jugo, o vaso quebrado, posições e gestos insólitos, etc. Essas ações são simbólicas e, muitas vezes, os próprios profetas as comentam numa linguagem inteligível aos espectadores.

Esses homens de Deus eram notáveis reivindicadores. Têm a consciência despertada de não pregarem doutrina nova, sua missão consistia em lembrar ao povo os termos do contrato da aliança que os ligava a Deus. Mas pretendiam revelar aos seus ouvintes o verdadeiro sentido dos acontecimentos que os envolviam, sentido esse que aparece em sua perspectiva de eternidade: esses acontecimentos eram outros tantos sinais; cada derrota, cada revés é um castigo e um apelo, cada libertação é uma demonstração da graça e da fidelidade de Deus.

Outros profetas são ainda mencionados, nos livros dos Reis:
·         Aías de Silo (I Rs 11)

·         Um profeta anônimo  (cap. 13)

·         Seméias (cap. 12)

·         Jeú (cap. 16)

·         Miquéias, homônimo do profeta escritor (cap. 22)

·         Isaías, o grande profeta cujo oráculos lemos na Bíblia (II Rs 19)

·         Holda (cap. 22)

Lendo narrações contidas nos livros dos Reis, pode surgir a ideia de que os governos não poderão subsistir com uma verdadeira estabilidade, se aquele que detêm o poder não forem e não permanecerem fiéis à palavra de Deus. A missão dos profetas consistiria então principalmente em lembrar-lhes essa obrigação e em velar pela sua observância.

Fora das duas seções que dizem respeito a Elias e Eliseu, os livros dos Reis encerram ainda notáveis passagens:

·         o Reino de Salomão (I Rs 1-5; 9-11)

·         A dedicação do Templo ( cap. 8)

·         A divisão do Reino (12-14)

·         A história de Acab (20-22)

·         A história de Atalia (II Rs 19)

·         A origem dos Samaritanos ( 17)

·         A invasão dos assírios (18-20)

·         A descoberta do Deuteronômio e a reforma de Josias (22-23)

·         O fim de Jerusalém (24-25)



***Amanhã falaremos sobre os Livros das Crônicas***

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