JEREMIAS
A pessoa do profeta Jeremias é atraente de um modo todo particular. Ao passo que os oráculos dos outros profetas pouco ou nada nos revelam sobre as pessoas dos seus autores, este livro, ao contrário, é cheio de episódios e de poemas que se relacionam com a própria pessoa do profeta, e nos conservam vários acontecimentos de sua carreira, bem como os seus sentimentos, suas lutas interiores, seus sofrimentos.
Nasceu Jeremias de uma família sacerdotal em Anatot, aldeia da Judéia, por volta de 650 a.C. O tempo de sua profecia estendeu-se por cerca de 40 anos, tomado ele a palavra pela primeira vez sobre Josias, em 622, na época em que foi descoberto no templo de Jerusalém um exemplar do livro da lei, identificado como Deuteronômio. Ele sustenta com toda a sua personalidade a reforma religiosa dessa época. Entretanto, essa mesma reforma foi de pouca duração, continuando o povo a queixar-se de Deus e do templo do Senhor e já não praticando a justiça de acordo com a lei.
A tarefa do profeta era austera: temperamento tímido e hesitante, coração ardente e sensível, Jeremias viu-se obrigado a ser, contudo, o “profeta das desgraças”. Esta sua missão tornou-se objeto de ira daqueles cujos abusos e pecados ele não cessava de combater. Foi caluniado, preso e correu risco de perder a vida.
Acusavam-no de derrotismo, porque ele aconselhava aos que tinham escapado do primeiro sítio da cidade a não se revoltarem contra os caldeus, procurando asilo no Egito, o que traria consigo terrível repressão da parte dos vencedores. Ele predissera aos deportados um longo exílio de 70 anos. O rei destruiu o volume no qual estavam consignados esses oráculos. Prendem o profeta numa cidade com o fundo cheio de lodo, de onde ele é libertado por um escravo do rei. Jeremias, sempre destemido, apesar de seu caráter tímido, continua a prever a queda de Jerusalém, mas anuncia que haveria ainda uma esperança no porvir.
Quando esse desastre sobreveio, em 586, o profeta assistiu as deportações, ficando porém, com alguns pobres agricultores autorizados a permanecer na Palestina. Alguns deles, tomados de pânico, fogem para o Egito, levando-o consigo a força. Jeremias anuncia ainda a invasão do Egito e antevê e prediz o fim do Exílio. Morreu em Tafnés, no Egito, sem dúvida por volta do ano 586.
O sentido geral deste livro consiste na interpretação providencial da catástrofe nacional que ele anunciou e viveu: Deus, implacável juiz, serve-se da ruína de seu povo para leva-lo de acordo com um plano pré-estabelecido, ao perdão e a renovação da aliança, fruto da misericórdia e da graça.
A pessoa de Jeremias, símbolo do justo sofredor, reveste-se de excepcional importância. Tornou-se ele um prenúncio de Jesus Cristo, “o homem das dores, habituado ao sofrimento por causa dos pecados do seu povo”.
São as queixas diante das injustiças, de que ele foi vítima, que servem ainda hoje, nos ofícios religiosos da Semana Santa, para exprimir a dor e os sofrimentos internos do Divino Salvador.
Eis aqui algumas passagens de relevante importância:
- · A vocação do profeta (cap. 1)
- · Os oráculos contra os juízes infiéis (2 a 7)
- · Contra a idolatria (10)
- · Os sofrimentos e queixas do profeta (15, 18 a 20)
- · As ações simbólicas (19 e 24)
- · As promessas da restauração (30 e 33)
- · O episódio da vida do profeta (36 a 44)
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