EZEQUIEL
Quando Jerusalém foi tomada pela primeira vez por Nabucodonosor, em 599, o rei, as autoridades do reino, os altos comerciantes, e sete mil guerreiros foram deportados para Babilônia. Não se tratava propriamente de um cativeiro, mais de um exílio. Receberam os deportados autorização para se estabelecerem onde quisessem, para cultivar terras, comerciar e dedicarem-se às indústrias e, por fim, para se organizarem em comunidades. O que mais lhes causava pesar não era propriamente o cativeiro, mas as saudade da pátria e da vida religiosa nacional, bem como a decepção de se verem misturados com povos pagãos. Israel conheceu nesse momento uma época de sombrio desespero (Salmo 136).
Infelizmente, sob a influência dos pagãos, o povo eleito foi-se deixando corromper e foi adotando os ritos da idolatria e os costumes depravados dos vencedores. Foi então que surgiu Ezequiel, em 593.
Enviado por Deus aos deportados, cuja vida manifestava que não tinham compreendido a lição do castigo, Ezequiel exercia no exílio a mesma missão de Jeremias, relativamente aos Israelitas que permaneceram na Palestina.
Ao povo, que ainda guardava falsa esperanças, anunciou a destruição de Jerusalém. Realizou-se esta, e uma nova deportação veio aumentar o número de exilados. Interpreta-a o profeta como um castigo divino pela infidelidade, principalmente dos chefes, que em geral deram ao povo o exemplo da corrupção. É esse o assunto dos 33 primeiros capítulos deste livro.
Mas a mensagem do profeta daí em diante muda de caráter. Ei-lo que exalta o novo Pastor do Povo de Deus, anunciando a ressureição de Israel, a restauração do templo e o reestabelecimento de uma ordem de coisas na qual, sob a direção divina, reinará a justiça.
Entre os profetas, Ezequiel é conhecido pela linguagem intrépida e pelo estilo imaginativo.
A visão na qual Deus lhe revela sua missão tornou-se célebre (cap. 1 a 5). Foi-lhe dado contemplar a glória divina. Apesar da detalhada descrição que aí lemos, mal podemos representar com exatidão essa aparição divina. Com efeito, Deus não pode ser descrito. É impossível a inteligência humana compreender a divindade. Ante a glória divina toca ao homem humilhar-se sem discutir.
Celebrizou-se Ezequiel também pelas estranhas ações simbólicas, narradas nos capítulos 4, 5, e 12; são uma espécie de “histórias sem palavras”, cujo sentido é claro para os expectadores e que, aliás, o próprio profeta por vezes explica.
Encontrar-se-á em Ezequiel, expresso pela primeira vez, o ensinamento da responsabilidade individual. Acredita-se então, e isso servia de excusa, que era por causa dos pecados dos antepassados que sofriam todas as espécies de castigos, como o próprio cativeiro. O profeta expõe categoricamente o princípio da responsabilidade e do merecimento pessoal (14 e 18).
Deparam-se nos particularmente 3 trechos que podem causar espanto pelas expressões ousadas: os capítulos 16, 20, 23. Para compreendê-los devidamente, urge lembrar-nos de que o profeta compara a união do povo eleito com seu Deus à união de um esposo com sua esposa. Ele chama de adultério toda a infidelidade para com Deus e prostituição todo o ato de idolatria.
Os capítulos 34 a 36, que se referem à restauração, devem ser lidos cautelosamente, bem como o capítulo 37, que, pela famosa visão dos ossos ressequidos, anuncia a renovação que Deus sabe operar nas almas desesperadas.
Nos capítulos 40 a 48, lemos a visão do novo templo e do novo estado judaico, devemos interpretá-los mais como um sermão do que como um plano verdadeiro. O sentido dessa descrição consiste em salientar que o santuário e o culto divino centralizarão toda a vida nova.
Nenhum comentário:
Postar um comentário